quinta-feira, 15 de julho de 2010

Entrevista com Cid Gomes


Derrotas e vitórias de um candidato à reeleição


Estaleiro, Acquario, Ronda do Quarteirão. Em três anos e meio como governador do Estado, Cid Gomes (PSB) protagonizou polêmicas, admitiu erros, insistiu no que acreditava. “Tem quem esteja na política para ser servido, e tem quem esteja na política para servir. Quem faz o julgamento de se tem mais para ser servido ou se para servir é o povo. E a política não anda com um conceito muito bom, não”, diz.

Candidato à reeleição, Cid acredita estar no poder para servir: “A minha grande satisfação na vida é poder ajudar as pessoas e ter a possibilidade de reconhecimento por parte delas”. A filosofia que tenta seguir ele aprendeu com o pai, José Euclides Ferreira Gomes Júnior, que foi eleito prefeito de Sobral quando Cid ainda era menino. A influência foi inevitável. Na oitava série, decidiu concorrer à presidência do grêmio do Colégio Sobralense, mas não teve sucesso. No ano seguinte, o primeiro científico, concorreu novamente. E perdeu de novo.

“Vim para Fortaleza fazer o 2º ano do, hoje, ensino médio. Estudei no Cearense o 2º e o 3º. Naquela época, já tinha uma faculdade lá em Sobral, mas praticamente não tinha nenhum curso desses mais prestigiados, como direito, que o Ciro veio fazer, e engenharia civil, que o Lúcio veio fazer, e o que eu fiz também”, lembra, referindo-se aos irmãos mais velhos.

Cid cursou engenharia na Universidade Federal do Ceará (UFC), mas queria mesmo ter estudado direito. Foi uma conversa com o pai que o fez desistir. “Hoje eu constato que tive uma conversa mal compreendida com meu pai. Ele me perguntou o que eu ia fazer no vestibular e disse assim: ‘Olhe, direito tem que ter muita vocação’. Eu entendi aquilo como um desestímulo e fui procurar o curso mais disputado, uma coisa também de autoafirmação”.


Durante a faculdade, entrou para o movimento estudantil. Concorreu ao cargo de diretor cultural de uma chapa e, finalmente, venceu a disputa pelo Centro Acadêmico. Na sucessão, foi presidente acadêmico. Naquela metade da década de 1980, ele lembra que a política estudantil era aparelhada por partidos políticos. “Sempre vi isso com uma certa reserva e fui meio contestado pelas forças tradicionais do movimento estudantil. Achava que era importante que a gente tivesse preocupações nacionais, mas era fundamental que a gente olhasse ali, para as nossas coisas, para melhorar a cantina, para ter mais equipamento nos laboratórios”.

Na sequência, em 1986, candidatou-se a vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes da UFC – e perdeu. “Me formei em 1987, voltei para Sobral e já abracei a minha grande vocação, que é a vida pública”.

No primeiro governo de Tasso Jereissati (PSDB), foi articulador da Secretaria de Governo (pasta então ocupada por Sérgio Machado), e em 1988 foi candidato a vice-prefeito em sua terra, na chapa liderada pelo padre José Linhares (PP), que acabou derrotada. Em 1990, ingressou de vez na política como deputado estadual eleito. Foram dois mandatos. Em 1996, foi escolhido prefeito de Sobral, tendo sido reeleito também. Em 2005, foi morar por dois anos nos Estados Unidos, trabalhando como consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Limites

Como governador do Ceará, Cid diz que, frequentemente, tem a sensação de “lençol curto”: “O executivo tem muitas demandas e uma capacidade de atuação limitada. Você pode focar mais no que deve ser uma demanda prioritária, mas há sempre a sensação de lençol curto. Faz aqui um pouquinho, mas já imagina que vai faltar ali do outro lado. A dificuldade é esta: procurar fazer com prioridades justas e com sensibilidade a colocação do lençol de forma que abrigue a maior quantidade de pessoas possível”.

BASTIDORES

Cid Gomes recebeu O POVO na residência oficial, em uma sala com um painel da orla de Fortaleza de um lado e, do outro, um do bondinho da gruta e Ubajara.

Pela ordem dos perfis publicados pelo O POVO, o de Cid deveria ter saído na edição de ontem, o que não aconteceu após reiteradas explicações da assessoria do governador/candidato sobre as dificuldades de abrir espaço em sua agenda. A entrevista acabou sendo concedida na noite de terça-feira, o que fez com que sua publicação só acontecesse hoje.

Antes de Cid, tiveram o perfil pub licado Soraya Tupinambá (Psol), no dia 7, Francisco Gonzaga (PSTU), no dia 8, Maria da Natividade (PCB), no dia 9, Marcelo Silva (PV), no dia 10, Marcos Cals (PSDB), no dia 12, e Lúcio Alcântara (PR), no dia 13.

Pouco antes de o governador chegar, organizamos o ambiente para as fotos. Movemos mesa de centro e poltronas, mas de nada adiantou. Assim que entrou, já mexeu em tudo, porque queria sentar perto, olhar de frente.

Vestido elegantemente, cabelo no lugar, Cid aceitou a proposta de uma conversa mais informal. “Me chame de Cid, me trate por você”, disse. Sentado, apoiou os cotovelos nos joelhos, como se estivesse em família.

O aperto de mão do governador também merece nota. Ele ultrapassa a mão e pega o punho de quem o cumprimenta.

Fonte:opovo.uol.com.br