sábado, 8 de outubro de 2011

Greve dos professores é suspensa por 30 dias.


Após 63 dias de greve, a maior da história da categoria, os professores da rede estadual de ensino decidiram suspender a paralisação por 30 dias. Vaias, aplausos, palavras de ordem e gritos marcaram a assembleia da categoria. Com uma margem de diferença apertada e sem contagem oficial de votos, foi aprovado o retorno às atividades, a intensificação das negociações com o governo Cid Gomes e um novo encontro, em um mês, para avaliar os próximos acordos.

O retorno ao trabalho será nesta segunda-feira, dia 10. Já quanto a reposição integral das aulas observará a proposta e a realidade de cada escola, anunciou a Secretaria da Educação do Estado (Seduc).

Cerca de cinco mil docentes lotaram, ontem à tarde, o Ginásio Paulo Sarasate, quando ouviram o relato do presidente do Sindicato dos Professores do Estado do Ceará (Apeoc), Anízio Melo, sobre a rodada de negociação mantida no dia anterior com o comando de greve e os representantes do governo, foi visível que a categoria estava divida quanto à decisão de parar ou não a greve.

Embora o presidente da Apeoc tenha feito questão de enfatizar, já no início de sua exposição, que a "decisão aprovada precisa ser respeitada, porque é a categoria que irá decidir os rumos da nossa luta", antes mesmo do fim de seu relato, começaram os protestos de boa parte dos presentes.

"Não temos como voltar ao trabalho. Não há garantia de nada. Cadê a ata assinada ou protocolada do que foi acordado na reunião com o governo?", disse Sebastião Pereira, da Escola Santo Amaro. Outro professor, Carlos Vieira acrescentou que "sem documento não há nada de concreto, se vão mesmo respeitar nossas tabelas salariais por nível de referência".

Contudo, um a um dos itens discutidos na reunião do comando de greve com o chefe de gabinete do governo, Ivo Gomes, e a secretária de Educação do Estado, Izolda Cela, foram lidos e comentados por Anízio Melo. Nessa rodada, explicou, foram elencados parâmetros como, por exemplo, as diretrizes e princípios da mensagem do Executivo aprovada na Assembleia Legislativa não serão aplicados na proposta a ser elaborada; ganho real para toda a carreira, com destaque para o salário inicial do professor e para a valorização dos que estão em início de carreira; valorização dos professores especialistas, mestres e doutores, com a manutenção da proporcionalidade entre todos os níveis; reafirmação do compromisso de implementação do 1/3 hora atividade extraclasse, de forma escalonada, a partir de 2012, e realização de concurso, no próximo ano, para contratação de novos educadores.

A negociação, citou Anízio, tem como parâmetro inicial a Lei 12.066, atual Plano de Cargos e Salários dos Professores; a regência de classe será baseada no vencimento base de cada nível incidindo em termos percentuais e retorno da gratificação de incentivo profissional; o interstício entre os níveis será anual com percentual a ser definido em negociação.

"Travamos um debate duro pela regência de classe e pelo incentivo profissional", disse o líder da Apeoc, considerando ainda avanço a promessa de que passe a ser anual, não mais a cada dois anos, a negociação do interstício entre os níveis salariais da categoria.

Como a proposta de integrantes da mesa que dirigia os trabalhos de suspender a greve estrategicamente e continuar o processo de negociação com o governo durante um mês, prazo no qual a categoria se reuniria novamente para reavaliar o movimento, não encontrou consenso, foi adotada a sistemática de três exposições a favor da proposta e três contrárias. Mas a cada falação, crescia a divisão de opiniões e era seguida dos aplausos dos apoiadores das propostas e das vaias e gritos daqueles que discordavam.

"Nossa proposta é suspender a greve por tempo determinado e continuar nossa luta de cabeça erguida", frisou o professor Nagibe Melo, membro da Apeoc e inscrito para reforçar a posição do comando da greve. "O governo está acuado", citou, referindo-se ao parâmetro 11, no qual o governo se compromete a não aplicar a mensagem encaminhada à Assembleia Legislativa.

Já Laura Lobato afirmou: "Não estou aqui para correr com medo de ameaças de demissão, pois é só o que temos de real". Na realidade, frisou, o que estava em discussão ali era a imposição governamental: "voltem a trabalhar que negociamos". Postas em votação, a proposta de suspensão e a da continuidade da greve, venceu a primeira. O presidente da Apeoc pediu que o momento fosse filmado "para não deixar dúvida".
Fonte:Jornal o povo.